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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Encontro: 14/12 O show do Eu - EU privado e o declínio do homem público

Grupo Ilegalidades
Imagem disponível em: < https://www.arkpad.com.br/blog/arquitetura-e-design/casa-de-vidro-com-arquitetura-minimalista/ >

No encontro do dia 14/12 discutimos mais um capítulo do livro "O Show do Eu: a intimidade como espetáculo", da autora Paula Sibila, o capítulo discutido foi o terceiro "EU privado e declínio do homem público". A autora faz uma discussão entre o que seria público e privado hoje tendo como comparativo o que esses conceitos significavam na era moderna, trazendo uma análise repleta de exemplos e comparações que nos levam a enxergar que tais conceitos são mutáveis na dinâmica do tempo. 

SIBILA, Paula. O EU privado e o declínio do homem público. O show do Eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008. 


  • A produção da subjetividade se dá, também, no espaço privado, esse que é fechado ao espaço público, onde a individualidade prevaleça para a construção do eu em intimidade com sigo mesmo. Nessa privacidade são produzidos os diários, as cartas, as autobiografias etc. É na intimidade que se produz a escrita da subjetividade. 
  • As escritas de cunho subjetivas, principalmente as assinadas pelo público feminino, datam do século XVII e chaga até o presente momento, mas com vistosas mudanças. No século XVIII as distâncias espaço temporais eram consideravelmente grandes, hoje, tais distâncias sofreram uma notável mudança. "Com uma rapidez inusitada e também imprevista, os dispositivos digitais e interconectados através das redes informáticas de abrangência planetária se convertem em poderosos meios de comunicação." (SIBILA, 2008, p. 88) 
  • Os relatos da subjetividade nos séculos XVII, XVIII, XIX e até meados do século XX; eram produzidos e restritos ao ambiente privado seu autor ou ao remetente exclusivo que o mesmo destina. Houve uma grande mudança nesse armazenamento das emoções convertidas em palavras, hoje, esses escritos são ainda produzidos no quarto, mas não se restringem à ele, são lançados na rede midiática em demasiada conexão. Os escritos subjetivos passam ao público. 
  • A busca pela intimidade no século XIX se dava pela busca de se restringir ao lar, uma intimidade que houvesse a literal separação entre o público e o privado. É um processo da cultura que desponta no momento, a qual é altamente controlada pela burguesia, a classe dominante no contexto setecentista/oitocentista. Portanto, tal intimidade é uma concepção burguesa, a qual introduz, também, a ideia de domesticidade e conforto. Assim, a casa se tornou o ambiente de intimidade e privacidade, foram repartidos os cômodos para as diversas funções (banheiro, cozinha, sala de estar/jantar) e, o mais cobiçado e que materializa essa ideia de individualidade, é o quarto. O século XIX têm-se a novidade do próprio quarto, um lugar onde se pode ser, livremente, o que se é. Nesse espaço o morador estaria a salvo do mundo exterior e todas as suas exigências, se preocupando apenas com seu valoroso eu, escrevendo seus diários e cartas e assim moldando sua subjetividade. 
  • Na Idade Média, intimidade e privacidade são raridades, mas "no despontar da modernidade, dois âmbitos claramente delimitados: o espaço público e o privado, cada um com suas funções, regras e rituais que deveriam ser prudentemente respeitados." (SIBILA, 2008. p. 95) 
  • Os quartos eram uma confortável delimitação onde se separava de todos os estigmas da vida publica e que, portanto, um espaço onde cada um poderia esbravejar tudo aquilo que se tinha de mais íntimos desejos, medos, angústias e emoções. "Nesses recintos, impregnados de solidão e privacidade, o sujeito moderno podia mergulhar m sua obscura vida interior, embarcando em fascinantes ou pavorosas viagens exploratórias que, muitas vezes, eram vertidas no papel. [...] Todos escreviam para firmar seu eu, para se autoconhecerem e cultivarem imbuídos tanto pelo espírito iluminista do conhecimento racional do que se era, como pelo ímpeto romântico de mergulho nos mistérios mais insondáveis da alma." (SIBILA, 2008, p. 96) 
  • Ler e escrever eram os grandes vícios desses tempos oitocentistas, eram muitas as pessoas que o faziam e, por isso, eram alvos de críticas e censuras dos moralistas da época. A ficção era instigante e apaixonante, produzida em centenas ou milhares de cópias que eram rapidamente consumidas. Era preciso ter atenção frente ao perigo da ficção, a sua capacidade de abduzir os leitores do mundo real. Não apenas ler, mas escrever também foi uma prática dissimulada nesse contexto, na mesma medida em que era condenada. Especialmente para as moças de boa família, a escrita acontecia em segredo, de forma recôndita o pulso registrava em palavras os necessários desabafos de uma austera vida do século XIX. Ler e escrever era uma nova configuração de solidão, um constante diálogo com o subjetivo. Esse é o homem romântico, aquele engatado na busca de si mesmo através da leitura e da escrita. 
  • O eu moderno é também extremamente valorizado na contemporaneidade. A produção do eu continua, porém de forma potencializada a partir dos recursos permitidos pela internet. O exibicionismo é uma importante diferença entre a escrita moderna e a contemporânea, a primeira o evitava vendo-o como uma uma aflição, já que a produção escrita era realizada sob a sombra do segredo; a escrita contemporânea, por sua vez, almeja tal exposição e para isso é produzida: "a internet permite que qualquer usuário possa publicar o que quiser, com pouco esforço e a baixo custo, para uma audiência potencial de de milhões de pessoas do mundo inteiro." (SIBILA, 2008, p. 105) 
  • Assim como a escrita as semelhanças também podem ser percebidas no processo de leitura, "De modo semelhante, os seguidores dos blogs e os fãs dos youtubers, assim como qualquer um que costuma navegar pelas redes sociais pulando de um perfil para o outro, poderiam ser comparados com os leitores de antigamente: aqueles que, nesse ato, se identificavam com os personagens literários e constituíam suas subjetividades em diálogo com esses jogos de espelho." (SIBILA, 2008, p. 105) 
  • A intimidade buscada no século XIX possui hoje a possibilidade se ser externalizada do seguro e misterioso quarto. O quarto é ainda onde essa intimidade se salvaguarda do mundo, do público, porém nesse espaço através da capacitação proporcionada pela internet, assistimos pelos diversos dispositivos midiáticos uma constante exibição da intimidade de outrem. 
  • A invisibilidade é evitada enquanto que a visibilidade é altamente valorizada, percebe-se isso pelo fato de que na mídia são publicados textos, fotos e vídeos da intimidade, expondo-a sem a menor restrição. Dessa forma, não há segredos guardados, não há o sentido da privacidade moderna que pretendia se esconder e, principalmente, se tornar invisível ao público. O anonimato, na sociedade contemporânea, marcada pela visibilidade, é desprezado. 
  • A confissão é um eficaz dispositivo de poder para construir verdades, existente desde o século XII como um mecanismo de controle eclesiástico, o qual se alastrou por vários campos da sociedade, medicina, psicologia, pedagogia, dente outras. Na modernidade o ato confessionário se dava na intimidade do quarto, onde eram escritos os diários. Hoje, a confissão é realizada de forma pública, uma possibilidade oferecida pela mídia, onde pessoas "confessam", ou seja, expõem sua vida por meio de textos, imagens, vídeos com uma rapidez de tempo real com repercussão para todo o mundo. O objetivo moderno é se calar para o público e ouvir a si mesmo, em contrapartida, o objetivo contemporâneo é se fazer ouvir pelo máximo número de pessoas, na expectativa de se engrandecer ao olhar alheio ou mesmo fazer uma denúncia em que o máximo de pessoas possam saber a verdade e, de forma participativa, comentarem suas indignações e conseguirem, por um peso quantitativo, pressionar organizações de poder para que essas tomem medidas de justiça. A visibilidade contemporânea, serve aos objetivos da mesma. 
  • "Os tempos mudaram e os valores também, portanto estes novos recursos se apresentam não apenas como um conjunto inovador de possibilidades comunicativas, mas também como um grande laboratório para a criação intersubjetiva, com incalculáveis feitos socioculturais e inclusive políticos." (SIBILA, 2008, p. 111) 
  • "Assim, desafiando o medo diante de uma eventual evasão, fortes ânsias de forçar voluntariamente os limites do espaço privado para mostrar a extimidade, para tornar público e visível esse eu desenvolvido no âmbito outrora íntimo. Nesse gesto, essa legião de confessandos e confidentes que invadiu as redes para se tornar a personalidade do momento vai ao encontro e promete satisfazer uma outra vontade geral do público contemporâneo: a avidez de bisbilhotar e consumir vidas alheias." (SIBILA, 2008, p. 115) 
  • Essa visibilidade é muito valiosa, pois as várias informações que compartilhamos são de grande importância para o mercado, uma vez que esse divulga para cada usuário produtos de seus interesses aumentando a possibilidade de fechar negócios. 
  • A arquitetura da casa moderna era fechada, possibilitando a privacidade aspirada, já a arquitetura contemporânea projetam casas que são a extensão da vida urbana que favorecem a produção da imagem e som, ou seja, proporciona a visibilidade. 
  • "A conclusão é simples: se não se mostra, se não se aparecer à vista de todos e os outros n]ao o veem, então, de pouco servirá ter seja lá o que for. Agora, portanto, o importante é parecer." (SIBILA, 2008, p. 122)
  • As casas que outrora garantiam a privacidade, agora são translúcidas, ou seja, abrem suas portas e janelas para a visibilidade. Várias vezes são tidas como um cenário onde se produz vídeos e fotos da intimidade para o consumo de milhares de pessoas. A intimidade é hoje devassada. 
Por: Letícia Azevedo.

Grupo Ilegalidades / Author

Este é um blog de compartilhamento de pesquisas referentes ao tema das ilegalidades, crime, violência e segurança pública do Curso de Ciências Sociais da PUC Minas.

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