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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Encontro 06/10: O prazer feminino em discurso: uma análise da presença de ideais feministas em músicas do gênero funk

Lúcia Lamounier



      Imagem disponível em: http://ego.globo.com/famosos/tudo-sobre/valesca-popozuda.html
   





O  artigo faz uma análise sobre a representação da mulher nas músicas do gênero funk cantadas pelo feminino. Para tanto, foram analisadas as letras de quatro músicas da cantora Valesca Popozuda, em sua carreira no grupo Gaiola das Popozudas, lançadas dentre os anos de 2007 e 2011. O artigo apresenta a forma como a mulher é representada nessas músicas, demonstrando o seu desejo erótico na produção de sentido de que o feminino também (e não apenas os homens) pode e deve sentir prazer no ato sexual, considerando que, dessa forma, a linguagem se transforma num meio de disseminação da ideologia feminista, referindo-se à tentativa de estabilizar uma igualdade de gênero no que envolve o prazer sexual. 
Disponível  file:///C:/Users/341550/Ilegalidades/Textos/IdeaisFemininosgenerofunk.pdf


 Músicas analisadas pelos autores: 






Agora eu sou solteira, retrata uma personagem após o rompimento de um relacionamento amoroso, utiliza vestimentas curtas na construção imagética de sua sensualidade a fim de estabelecer relações sexuais sem compromissos sérios, sanando, com isso, seu desejo.




 

A música Agora virei puta,descreve as relações conturbadas entre um casal, demonstrando um relacionamento abusivo, nas quais se estabelece uma situação de inferioridade da mulher em que ela é reprimida por um homem quando este cria um panorama de dominação sobre o feminino, através da utilização da força física, espancando-a e indo se divertir. Dentro do contexto musical, essas situações faz com que a mulher relatada tenha uma posição de mulher objeto-sexual para vingar os acontecimentos do seu parceiro. 




A porra da buceta é minha, aborda o poder de escolha da mulher referente aos seus gostos pessoais, quando esta se nega à possibilidade de ter uma relação sexual com determinado homem e, por isso, ele a difama.



A letra de My pussy é o poder, faz referência ao órgão genital feminino, num discurso de consagração, evidenciando que com a sua utilização a mulher poderia conseguir qualquer coisa que ambicionasse, devido à dimensão de prazer que ele pode proporcionar ao outro. Sendo a mulher como um objeto passivo e de uma falsa dominação ao homem.
 Por: Lorena Parreira

Análises de Phillipp Gripp e Joseline Pippi.


Resumo: O presente artigo faz uma análise sobre a representação da mulher nasmúsicas do gênero funk cantadas pelo feminino. Para tanto, foram analisadas as letrasde quatro músicas da cantora Valesca Popozuda, em sua carreira no grupo Gaiola dasPopozudas, lançadas dentre os anos de 2007 e 2011. O artigo apresenta a forma comoa mulher é representada nessas músicas, demonstrando o seu desejo erótico naprodução de sentido de que o feminino também (e não apenas os homens) pode e devesentir prazer no ato sexual, considerando que, dessa forma, a linguagem se transformanum meio de disseminação da ideologia feminista, referindo-se à tentativa deestabilizar uma igualdade de gênero no que envolve o prazer sexual.

 INTRODUÇÃO

  • As músicas, além de produtos, configuram-se como elemento de visibilidade de representações culturais que tendem a ser reproduzidas pelos consumidores.
  •  Funk – gênero musical originado nos Estados Unidos em meados da década de 60, criado por músicos afro-americanos que apresenta influências de jazz, soul e rhythm and blues (R&B).
  • A palavra Funk, na língua inglesa, possuía um teor indecoroso por remeter a conotações sexuais
  • O Funk carioca, proveniente das favelas do Rio de Janeiro, teve sua ascensão na década de 80, com a realização de festas do ritmo estadunidense, no decorrer dos anos 70, a partir da influência do ritmo musical oriundo da Flórida, o Miami Bass e com o empenho dos DJs na mixagem de músicas com outras melodias da música negra.
  • O gênero musical começou a levar ao público temáticas sobre o cotidiano nas favelas, o uso e o tráfico de drogas e de armas.
  •  O Funk começa a se consolidar na década de 90, transformando-se num ritmo popular
  •  O Gênero musical passa a sofrer discriminação por sua popularidade em classes econômicas mais baixas e pelas brigas entre grupos rivais que se enfrentavam nos chamados “corredores”, por vezes acarretando em mortes.
  • No final dos anos 90, o Funk entra em sua fase de composições com conotação erótica, desvalorizando a mulher em determinadas canções. A partir desse panorama, a representação do feminino nas letras de músicas do gênero funk é retratada diversas vezes com uma perspectiva alusiva ao machismo.
  • Duas características do machismo, apontadas por Edinéia Santos:
  • A rivalidade entre gangues e grupos dos morros estimula e encoraja o senso de superioridade masculina, pois os membros jovens desses grupos e comunidades são estimulados constantemente a serem homens usando da violência, a provarem suas características supostas como forma de pertencimento ao grupo e até mesmo para serem protegidos por esse grupo.
  • Estrutura organizacional da comunidade funk: as mulheres raramente podem ser MCs (mestres de cerimônia), uma posição de destaque no baile funk, geralmente assumida por quem canta a música e organiza o andamento do baile. Às mulheres cabe um papel secundário nesses bailes, sendo constantemente convidadas para dançar.
  • Sexismo na produção do Funk anterior às composições das canções: nas próprias atribuições de poder e suas relações (MCs majoritariamente homens; mulheres em posições secundárias)
  • Problema: com a produção e interpretação de músicas funk por mulheres, o cenário dessas relações no funk carioca se modifica ou permanece estagnado em ideais machistas?
  • Objetivo: analisar o discurso de músicas do gênero funk interpretadas por uma mulher, com a intenção de investigar se estas composições se enquadram no cenário feminista, como intencionalidade a estabelecer uma contraposição ao painel sexista apresentado acima, levando em ponderação que tal gênero musical reflete as relações de poder expressas nas zonas periféricas de grandes centros urbanos, como o Rio de Janeiro, podendo ser considerado como um modo cultural de expressão dessas localidades.
  • Metodologia: A escolha por esta cantora se sucedeu devido a declarações da própria artista se afirmando como feminista; As investigações se delimitaram em entender como os processos verbais foram utilizados, considerando as especificidades da linguagem da periferia carioca, atentando para a utilização de gírias e à abordagem linguística escrachada.



CORPUS DO TRABALHO


  • As músicas analisadas foram consideradas produtos culturais midiáticos, tendo em vista a contextualização sócio-histórica do gênero funk, como representação de comunidades periféricas, e suas reproduções em diferentes plataformas midiáticas, como rádio, televisão e web. 
  • Procurou-se apreendê-las como ideologia 
  • Segundo Kellner (2001): As músicas analisadas foram consideradas como produtos culturais midiáticos, tendo em vista a contextualização sócio-histórica supracitada do gênero funk, como representação de comunidades periféricas, e suas reproduções em diferentes plataformas midiáticas, como rádio, televisão e web. 
  • Logo, é possível afirmar que o objeto analisado não tem apenas o objetivo de entreter o público, mas, ainda além, incorpora-se na sociedade munido de intenções abarcadas de uma ideologia que é reproduzida pela população e, com isso, disseminada. 
  • Valesca Popozuda apresenta sua visão no que se refere a assuntos como relações sexuais, desejo sexual e sua realização, erotização do corpo e inconformismo com o papel da mulher perante uma visão social machista que atribui ao gênero feminino uma serventia de dona de casa e objeto sexual passivo. 
  • Linguagem trivial específica utilizada no funk: intenção de direcionar essas produções culturais a um determinado nicho específico de consumidores que se identificam com estas formas de expressão. 
  • Características do gênero musical podem ser afirmadas como representações da cultura popular: O que Mikhail Bakhtin investiga é aquilo que na cultura popular, ao opor-se à oficial, a une, aquilo que, ao constituí-la, a segrega (...). A praça é o espaço não segmentado, aberto à cotidianidade e ao teatro, mas um teatro sem distinções de atores e espectadores. Caracteriza a praça sobretudo uma linguagem; ou melhor: a praça é uma linguagem, “um tipo particular de comunicação”, configurado a partir da ausência das construções que especializam as linguagens oficiais, seja a da Igreja, a da Corte ou a dos tribunais. Uma linguagem na qual predominam, no vocabulário e nos gestos, as expressões ambíguas, ambivalentes, que não apenas acumulam e dão vazão ao proibido, mas também, ao operar como paródia, degradação-regeneração, “contribuíam para a criação de uma atmosfera de liberdade”. Grosserias, injúrias e blasfêmias revelam-se condensadoras das imagens da vida material, e corporal, que liberam o grotesco e o cômico, os dois eixos expressivos da cultura popular (MARTIN BARBERO, 2006) 
  • Canções analisadas: “Agora eu sou solteira”, “Agora virei puta”, “A porra da buceta é minha” e “My pussy é o poder”. 
  • Características linguística – expressiva perceptível nos títulos 
  • Feminino retratado de forma promíscua, porém consciente de seu papel ativo em relação ao gênero masculino. 
  • o fato de a mulher cantar sobre si mesma enfatizando a necessidade de seu prazer erótico faz do discurso um meio de disseminação dos ideais feministas, num contexto de gênero musical que, prevalentemente, visibiliza e comina uma superioridade ao masculino. 
  • Músicas como formas de resistência e luta contra uma hierarquia opressora, a qual defende que apenas o masculino pode desejar e sentir prazer, além de ter a liberdade para falar (e cantar, neste caso) sobre o assunto. 

  • Uma perspectiva crítica vê a cultura como algo inerentemente político e, em muitos casos, como algo que fomenta determinadas posições políticas e funciona como força auxiliar de dominação e resistência. Tal perspectiva vê a cultura e as sociedades existentes como um terreno de disputas e opta por aliar-se às formas de resistência e contra-hegemonia em oposição às forças de dominação. Baseando sua política nas lutas e nas forças sociais existentes, põe a teoria social e os estudos culturais a serviço da crítica sociocultural e da transformação política. (KELLNER, 2001)



ANÁLISES

  • As canções foram analisadas a partir de uma sistematização de categorias (Bardin, 1979), com a intenção de estabelecer em quais trechos Valesca esboça o seu ponto de vista acerca dos parâmetros sociais de sexismo e os critica, evidenciando o gênero feminino como pano de fundo das composições.
  • Kellner (2001) considera que o feminismo se tornou parte dos discursos teóricos no mundo “por meio de movimentos radicais, as mulheres começaram a revoltar-se contra aquilo que consideravam práticas opressivas das sociedades patriarcais contemporâneas e de seus consortes”
  • As músicas de Valeska apresentam um princípio feminista por possibilitar o questionamento, a reflexão e a crítica sobre questões referentes s às diferenças sociais estabelecidas entre gêneros sexuais.
  • A sistematização buscou encontrar, nas letras de músicas, a presença de uma ideologia feminista da cantora fundamentada em quatro aspectos: o desejo sexual, quando a música apresenta a vontade da mulher em suprir o desejo referente ao sexo; as relações sexuais, quando é apresentada ao ouvinte a contemplação deste desejo, através de uma descrição do ato sexual; a exaltação ao feminino, que evidencia a importância das mulheres, valorizando suas características para inferir uma possível independência em relação aos homens; e insatisfação com o papel social, quando é retratado um desagrado sobre as relações de poder, nos quais há uma oposição à dominação do sexo masculino sobre o feminino.
  • O essencial não são todos esses escrúpulos, o “moralismo” que revelam, ou a hipocrisia que neles podemos vislumbrar, mas sim a necessidade reconhecida de que é preciso superá-los. Deve-se falar do sexo, e falar publicamente, de uma maneira que não seja ordenada em função da demarcação entre o lícito e o ilícito, mesmo se o locutor preservar para si a distinção (é para mostrá-lo que servem essas declarações solenes e liminares); cumpre falar de sexo como de uma coisa que não se deve simplesmente condenar ou tolerar mas gerir, inserir em sistemas de utilidade, regular para o bem de todos, fazer funcionar segundo um padrão ótimo. O sexo não se julga apenas, administra-se. (FOUCAULT, 1988) 

MÚSICA: AGORA EU SOU SOLTEIRA

A canção gira em torno da liberdade feminina de falar sobre o seu desejo em manter relações sexuais sem pretensões de se envolver sentimentalmente com o homem, intuindo, apenas, a satisfação de seu prazer.
se utiliza de artifícios de sedução ligados às vestimentas, o que possibilita acarretar na criação de estereótipos relacionados à forma de se vestir e seus trejeitos, considerados imorais
Essa imoralidade acaba gerando insatisfação, por parte de alguns receptores, o que é percebido pelos xingamentos ligados a ela, os quais são retrucados pela personagem, por acreditar no ideal de se igualar ao gênero masculino na procura de um parceiro objetivando apenas o prazer sexual.
  • DESEJO SEXUAL: ““Ai que homem gostoso, vem que vem quero de novo”
  • RELAÇÕES SEXUAIS: “No local do pega-pega eu esculacho tua mina / No completo, no mirante, outro no muro da esquina / Na primeira tu já cansa / Eu não vou falar de novo / Ai que homem gostoso, vem que vem quero de novo”
  • EXALTAÇÃO AO FEMININO: não há referência
  • INSATISFAÇÃO COM O PAPEL SOCIAL:  “Agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar” “Sou cachorrona mesmo / E late que eu vou passar”


MÚSICA: AGORA EU VIREI PUTA.
descreve as relações conturbadas entre um casal.
Mulher reprimida por um homem; Situação de inferioridade da mulher.
Panorama de dominação sobre o feminino.
Agressão contra a mulher: ele a espanca e vai se divertir.
desagrado feminino na constituição de um patriarcalismo familiar, quando é designado à mulher o dever de realizar trabalhos domésticos.
exaltação ao feminino se originando a partir da insatisfação com o papel social da mulher que é abordado na canção.
crítica social sobre a atribuição de poderes aos diferentes personagens da entidade familiar, conexo à indignação e desistência feminina da tentativa de manter a relação com o parceiro devido à tortura retratada.
DESEJO SEXUAL: não há referência.
RELAÇÕES SEXUAIS: não há referência.
EXALTAÇÃO AO FEMININO: “Agora que eu sou puta você quer falar de amor” “Valeu, muito obrigado, mas agora virei puta”
INSATISFAÇÃO COM O PAPEL SOCIAL: “Só me dava porrada / E partia pra farra / Eu ficava sozinha, esperando você / Eu gritava e chorava que nem uma maluca”. “Eu lavava, passava / Tu não dava valor”.

MÚSICA: A PORRA DA BUCETA É MINHA
aborda o poder de escolha da mulher: feminino encontra a necessidade de se afirmar como dono de si mesmo como uma réplica à difamação infundada.
A mulher se nega à possibilidade de ter uma relação sexual com determinado homem e, por isso, ele a difama.Apresenta a indignação feminina com as características sexistas presentes na sociedade, nesta simulada pela necessidade de a mulher precisar afirmar o seu domínio sobre o próprio órgão sexual e a autoridade de escolha a respeito de com quem a mesma mantém relações sexuais.
DESEJO SEXUAL: não há referência
RELAÇÕES SEXUAIS: não há referência
EXALTAÇÃO AO FEMININO: “Porque eu dou pra quem quiser / Que a porra da buceta é minha”
INSATISFAÇÃO COM O PODER SOCIAL: “Só porque não conseguiu foder comigo / Agora tu quer ficar me difamando né? / Então se liga no papo / No papo que eu mando”.

MÚSICA: MY PUSSY É O PODER
Discurso de consagração ao órgão genital feminino
Utilização do órgão sexual da mulher para conseguir qualquer
Com a utilização do órgão sexual a mulher poderia conseguir qualquer coisa que ambicionasse, devido à dimensão de prazer que ele pode proporcionar ao outro.A canção pode parecer enquadrar o feminino numa posição de objeto que existe para oferecer prazer em troca de algo, entretanto, numa análise mais incisiva, percebe-se que o discurso se constrói inferindo a exaltação do gênero feminino, através do poder de sua genitália.
cenário em que o masculino depende do feminino, invertendo os valores sociais.
DESEJO SEXUAL: não há referência.
RELAÇÕES SEXUAIS: “Na cama faço de tudo”
EXALTAÇÃO AO FEMININO: “Sou eu que te dou prazer” /“My pussy é o poder”/ “Por ela o homem chora / Por ela o homem gasta / Por ela o homem mata / Por ela o homem enlouquece”.
INSATISFAÇÃO COM O PAPEL SOCIAL: não há referência.

A análise realizada das músicas de Valesca identificou características relacionadas – e que podem ser embasadas para justificar essas produções culturais como um discurso crítico-ideológico sobre as relações de poder referentes aos gêneros sexuais – àquilo que Foucault elencou como alguns traços principais de análises políticas de poder alusivos à sexualidade, tendo em vista o contexto social no qual as canções são reproduzidas.
A partir da relação dessas músicas com os traços estabelecidos por Foucault (1988), é possível afirmar que a abordagem linguístico-expressiva utilizada pela cantora causa um impacto inicial devido a mostrar o feminino sem se preocupar em utilizar as mesmas palavras que o masculino se apropria na  criação de composições do mesmo ritmo.
Foucalt:
A relação negativa. Com respeito ao sexo, o poder jamais estabelece relação que não seja de modo negativo: rejeição, exclusão, recusa, barragem ou, ainda, ocultação e mascaramento. O poder não “pode” nada contra o sexo e os prazeres, salvo dizer-lhes não; se produz alguma coisa, são ausências e falhas; elide elementos, introduz descontinuidades, separa o que está junto, marca fronteiras. Seus efeitos tomam a forma geral do limite e da lacuna (p. 93).
 O ciclo da interdição: não te aproximes, não toques, não consumas, não tenhas prazer, não fales, não apareças; em última instância não existirás, a não ser na sombra e no segredo. Sobre o sexo, o poder só faria funcionar uma lei de proibição. Seu objetivo: que o sexo renunciasse a si mesmo. Seu instrumento: a ameaça de um castigo que nada mais é do que sua supressão. Renuncia a ti mesmo sob pena de seres suprimido; não apareças se não quiseres desaparecer (p.94).
O ciclo da interdição: não te aproximes, não toques, não consumas, não tenhas prazer, não fales, não apareças; em última instância não existirás, a não ser na sombra e no segredo. Sobre o sexo, o poder só faria funcionar uma lei de proibição. Seu objetivo: que o sexo renunciasse a si mesmo. Seu instrumento: a ameaça de um castigo que nada mais é do que sua supressão. Renuncia a ti mesmo sob pena de seres suprimido; não apareças se não quiseres desaparecer (p.94).
A lógica da censura. Supõe-se que essa interdição tome três formas; afirmar que não é permitido, impedir que se diga, negar que exista. Formas aparentemente difíceis de conciliar. Mas é aí que é imaginada uma espécie de lógica em cadeia, que seria característica dos mecanismos de censura: liga o inexistente, o ilícito e o informulável de tal maneira que cada um seja, ao mesmo tempo, princípio e efeito do outro: do que é interdito não se deve falar até ser anulado no real; o que é inexistente não tem direito a manifestação nenhuma, mesmo na ordem da palavra que enuncia sua inexistência; e o que deve ser calado encontra-se banido do real como o interdito por excelência. A lógica do poder sobre o sexo seria a lógica paradoxal de uma lei que poderia ser enunciada como injunção de inexistência, de não-manifestação, e de mutismo (p. 94-95).
Neste momento percebemos que o discurso apresentado nas músicas de Valesca é socialmente visto como indiscreto devido a três etapas, nas quais primeiramente se chega ao consenso de que é proibido que a mulher discorra sobre o assunto e, partindo disso, impedir que o discurso seja realizado, para, finalmente, negar a existência dos ideais machistas na sociedade. Tudo com o intuito relacionado a haver uma censura perante o que é dito neste produto cultural, tendo em vista que o que não é falado não existe.

CONSIDERAÇÕES:

as composições analisadas foram produzidas trazendo consigo um teor feminista. Elas se igualam, no que se refere à expressão linguística, aos produtos realizados por homens, exemplificados pela abordagem textual escrachada.

Percebeu-se no gênero musical funk uma tentativa de disseminação da ideologia feminista buscando estabelecer a igualdade de gênero pelas necessidades, haja vista a presença de sexismo, de desconstrução dos papéis e relações de poder entre o feminino e o masculino nos relacionamentos.

As músicas de Valesca, prezando por uma igualdade, que pode ser percebida através de uma comparação das formas de expressão linguística das composições cantadas por homens e por mulheres, constituem novas relações de poder entre os gêneros sexuais na reprodução da ideologia feminista para a construção de reflexão e pensamento crítico sobre o que está determinado socialmente como uma hierarquia que enquadra o masculino como aquele que deve ser respeitado e objetiva emudecer o discurso que evidencia o desejo e o prazer feminino


LETRA COMPLETA DAS MÚSICAS:


MÚSICA: AGORA EU SOU SOLTEIRA

Eu vou pro baile, eu vou pro baile, de sainha
Agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar
Daquele jeito
De, de sainha
Daquele jeito
Eu eu eu eu

Eu vou pro baile procurar o meu negão,
Vou subir no palco ao som do tamborzão
Sou cachorrona mesmo
E late que eu vou passar
Agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar
Dj aumenta o som
Eu já tou de sainha
De, de sainha
No local do pega pega eu esculacho tua mina
No completo, no mirante, outro no muro da esquina
Na primeira tu já cansa
Eu não vou falar de novo
Ai que homem gostoso, vem que vem quero de novo
Ai que homem gostoso, vem que vem quero de novo
Gaiola das Popozudas agora fala pra você
Se elas brincam com a xaninha eu faço o homem
enlouquecer
Se elas brincam com a xaninha eu faço o homem
enlouquecer
De, de sainha
De, de sainha
Agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar





AGORA VIREI PUTA

Só me dava porrada
E partia pra farra
Eu ficava sozinha, esperando você
Eu gritava e chorava que nem uma maluca.
Valeu muito obrigado mas agora virei puta!

Valeu muito obrigado mas agora virei puta!
Valeu muito obrigado...

Um tapinha não dói..
Eu falo pra você...
Segura esse chifre quero ver tu se foder!
Segura esse chifre quero ver tu se foder!

Segura esse chifre quero ver tu se foder!
Segura esse chifre...

Eu lavava passava.
Eu lavava passava...
tu não dava valor.
tu não dava valor...
Agora que eu sou puta você quer falar de amor!
Agora que eu sou puta você quer falar de amor!
Agora que eu sou puta

Só me dava porrada!!!
e partia pra farra!!!
eu ficava sozinha esperando você..
eu gritava e chorrava feito uma maluca!
Valeu muito obrigado mas virei puta!
Valeu muito obrigado mas virei puta...

Valeu muito obrigado mas agora virei puta!
Valeu muito obrigado...

Um tapinha não dói...
Eu falo pra você...
Segura esse chifre quero ver tu se foder!
Segura esse chifre quero ver tu se foder!

Segura esse chifre quero ver tu se foder!
Segura esse chifre...

Eu lavava passava.
Eu lavava passava...
tu não dava valor.
tù não dava valor..
agora que eu sou puta você quer falar de amor!

agora que eu sou puta voce quer falar de amor!
agora que eu sou puta.




A PORRA DA BUCETA É MINHA

E aí, seu otário,
Só porque não conseguiu foder comigo
Agora tu quer ficar me difamando, né?
Então se liga no papo,
No papo que eu mando.

Eu vou te dar um papo,
Vê se para de gracinha.
Eu dou pra quem quiser,
Que a porra da boceta é minha!

É minha! É minha!
A porra da boceta é minha!
É minha! É minha!
A porra da

Se liga no papo,
No papo que eu mando:
Só porque não dei pra tu
Você quer ficar me exclamando.
Agora, meu amigo,
Vai tocar uma punhetinha,
Porque eu dou pra quem quiser,
Que a porra da boceta é minha.

É minha! É minha!
A porra da...
É minha! É minha!
A porra da boceta é minha!
É minha! É minha!
A porra da boceta é minha!
É minha! É minha!
A porra da...

Eu vo te dar um papo
Vê se para de gracinha
Eu do pra quem quiser
Que a porra da boceta é minha
É minha! É minha!
A porra da boceta é minha!
É minha! É minha!
A porra da

Se liga no papo,
No papo que eu mando:
Só porque não dei pra tu
Você quer ficar me exclamando.
Agora, meu amigo,
Vai tocar uma punhetinha,
Porque eu dou pra quem quiser,
Que a boceta é minha!

É minha! É minha!
A porra da boceta é minha!
É minha! É minha!
A porra da...

MY PUSSY É O PODER

Na cama faço de tudo
Sou eu que te dou prazer
Sou profissional do sexo
E vou te mostrar por que

Minha buceta é o poder
Minha buceta é o poder

Mulher burra fica pobre
Mass eu vou te dizer
Se for inteligente pode até enriquecer

Minha buceta é o poder
Minha buceta é o poder

Por ela o homem chora
Por ela o homem gasta
Por ela o homem mata
Por ela o homem enlouquece

Dá carro, apartamento, jóias, roupas e mansão
Coloca silicone
E faz lipoaspiração
Implante no cabelo com rostinho de atriz
Aumenta a sua bunda pra você ficar feliz

Você que não conhece eu apresento pra você
Sabe de quem tô falando?

Minha buceta é o poder
Minha buceta é o poder

Mulher burra fica pobre
Mas eu vou te dizer
Se for inteligente pode até enriquecer

Minha buceta é o poder

Rasta no chão, rasta no chão, rasta que rasta que rasta...

Por ela o homem chora
Por ela o homem gasta
Por ela o homem mata
Por ela o homem enlouquece

Dá carro, apartamento, jóias, roupas e mansão
Coloca silicone
E faz lipoaspiração
Implante no cabelo com rostinho de atriz
Aumenta a sua bunda pra você ficar feliz

Você que não conhece eu apresento pra você
Sabe de quem tô falando?

Minha buceta é o poder
Minha buceta é o poder

Mulher burra fica pobre
Mas eu vou te dizer
Se for inteligente pode até enriquecer

Minha buceta é o poder
Minha buceta é o poder

Rasta no chão, rasta no chão,
rasta que rasta que rasta que rasta no chão...
Por: Luciana Laper










Lúcia Lamounier / Author

Este é um blog de compartilhamento de pesquisas referentes ao tema das ilegalidades, crime, violência e segurança pública do Curso de Ciências Sociais da PUC Minas.

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